O POETA QUE CHORAVA SONETOS...

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(Lílian Maial)
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Para ninar poeta toque um sino,
que o som desse silêncio não faz rima,
se a música dos sonhos não anima,
melhor trocar as cordas do violino.
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Poeta não tem sono e nem destino,
qual lua, que desdenha lá de cima,
de estrelas aparadas com u’a lima
nas pontas, pelas mãos desse menino!
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Se o meu poeta sofre a noite em claro,
e esquece o meu amor – presente caro –
que as trevas acompanhem seu porvir!
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Mas se a saudade bate à tua porta,
nos sonhos tua musa te conforta,
enxuga o teu soneto e vai dormir!
O Beijo

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(Clarrissa Yemisi)

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Tu foste todo sombra noite a dentro
pairavas e tragavas e tossias
por entre mãos de fumo tão vazias
é em ti, somente em ti, que me concentro.
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À grande custa, à força bruta, adentro
a tua fortaleza, carnes frias
e sinto exatamente o que sentias:
em tua alma o amor foge do centro.
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Como quem quer livrar-se de uma pena
e nesse vão delírio traiçoeiro
é a si - mas não somente - que condena.
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Depois tu vais embora sorrateiro
e a única ternura dessa cena
é o beijo no cigarro no cinzeiro.
Engano



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(Patrícia Neme)
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Eu te percebo em vôo errante e vago,
cortejas flores, rondas os canteiros.
Perdido em cores, bebes, trago a trago,
orvalho e néctar, vãos e derradeiros.
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Beijas a rosa, no cravo um afago...
Mas teus carinhos não são verdadeiros.
Teu rastro fala de dor e de estrago,
dos sonhos mortos... Todos passageiros!
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Teus passos são volúveis, causam dano,
motivam pranto, angústia, desengano,
desfolhas vidas, sem pena, sem dó.
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Tanta aridez... O que é do meu jardim?
Eu me pergunto, o que será de mim...
Assim tão triste, machucada e só!
ESPERANÇA

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(Patrícia Neme)
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Por isso eu grito as dores da incerteza
que embala um coração desempregado;
e não tem pão ou vinho sobre a mesa...
e nada mais espera do seu fado.
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Eu grito pelos filhos da pobreza,
despidos de futuro – e de passado!
Sementes do abandono... com dureza
a vida os tange, qual se foram gado.
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Eu grito por saúde, teto, escola
– direitos vão além de bolsa-esmola –,
por mais cidadania, eu solto a voz.
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Por mais justiça e fim da impunidade,
por raças convivendo em igualdade,
por um país melhor... por todos nós!
IndigNAÇÃO

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(Luciano Dionísio)
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Ouviram, dos teus filhos o gemido,
às sombras dos porões, ó, mãe inglória;
os ferros de suplício; a rogatória;
a infâmia; a gargalhada; o alarido.
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Deitado eternamente na memória
de um povo torturado e perseguido,
fulgura o episódio descabido
que mancha de vergonha a tua história.
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E hoje, sob o sol da liberdade,
induze-nos, calcados, sem vontade,
ao pejo de servir outro tirano.
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Por que, se já colhemos nossos pomos,
madrasta não gentil, ainda somos
fantoches do capricho americano?